Exposição mostra o melhor de Mato Grosso do Sul

Jornal Correio do Estado, Novembro de 2004

Dante Filho

A exposição “Diálogos Contemporâneos”, que ainda se encontra no MARCO, é desconcertante. Mostra, acima de tudo, que as artes plásticas continuam a ser o espaço avançado de sensibilidade estética de Mato Grosso do Sul. Tivéssemos algo parecido na música e na literatura, por exemplo, estaríamos feitos. Mas isso é outro assunto...

Quem se interessar em fazer uma espécie de viagem onírica pelo nosso imaginário modernizante deve, obrigatoriamente, passar algumas horas no museu, observando os trabalhos dos dez artistas (quase todos oriundos dos cursos de graduação e pós-graduação do Departamento de Artes e Comunicação da UFMS) que ali estão expondo – formando amplo painel que marca uma espécie de reflexão imagética de uma nova geração de artistas locais. No pouco tempo que estive no museu na última sexta-feira, só posso dizer que fiquei impactado com o que vi.

Não pretendo aqui discorrer sobre o valor individual dos trabalhos apresentados, mesmo porque me pareceu que a proposta da exposição – corretamente – é possibilitar ao público que compreenda que há um movimento estético avançado em curso e que este processo vem ocorrendo por meio de diálogos complementares em torno de temática diversa e conceitos diferenciadores.

Nesse aspecto, a exposição pode até ser considerada altamente fragmentária, mas parte do pressuposto que toda conversa que pretende estabelecer certa homogeneidade de seus interlocutores acaba resultando em reducionismos regressivos. Por isso, as obras ganham dimensão exatamente porque propõem uma discussão intermitente, que inclusive não se esgota com a própria exposição.

O que mais gratifica, contudo, é saber que em Mato Grosso do Sul está se produzindo uma das melhores artes visuais do País. Dessa maneira, louvo a equipe que hoje comanda o Museu de Arte Contemporânea, visto estar realizando uma espécie de revolução silenciosa nessa área, a qual poderá (acredito com certo otimismo) ser legitimada um dia pelo chamado “bom gostismo crítico” da mídia do eixo Rio–São Paulo.

Por intermédio de “Diálogos Contemporâneos” fica evidente a variedade explosiva das artes plásticas do Estado. Há visões multiplicadoras que amalgamam o primitivo e o moderno, o figurativo e o abstrato, o místico e o erótico, realizando, dessa maneira, uma tessitura polifônica que, em vez de atordoar, nos possibilita a ampliação da sensibilidade para que compreendamos a mecânica histórica na qual estamos inseridos.

Esses artistas deixam claro que estão verdadeiramente sintonizados com o mundo (pós) moderno. Cada obra apresentada é reveladora. Não há como não ficar vivazmente impressionado com seus trabalhos. Eles não só revelam tendências, mas iluminam conceitos para que possamos vislumbrar como Mato Grosso do Sul está vendo a si mesmo, ao nosso tempo e o mundo disforme que nos cerca. Trata-se assim de um notável esforço interpretativo.

Dentre os 10 expositores selecionados para esta mostra, cerca de quatro deles eu os colocaria numa espécie de panteão estético sul-mato-grossense, visto ser perceptível alguma centelha de genialidade. Mas atribuo a isso a certa empatia individual, mesmo porque sou apenas curioso na matéria.

O que importa, na verdade, é a ousadia pela qual nossos artistas estão experimentando, possibilitando, assim, que haja intensas fruições interlocutórias, o que revela, acima de tudo, a nossa grandeza cultural.

Em “Diálogos Contemporâneos” há, enfim, uma síntese expressiva que mostra como o melhor de nossa sensibilidade cromática está se relacionando com o entorno. E nesses momentos dá orgulho de viver em Mato Grosso do Sul.