Artista gera polêmica entre católicos

Exposição relaciona religiosidade e consumo, para a revolta dos mais conservadores

Jornal O Estado de MS, 23 de maio de 2006

Christiane Reis

“Toda a polêmica em torno da exposição só tem feito com que aumente o número de visitantes ao museu, principalmente nos fins de semana”, avalia o artista plástico Evandro Prado, que desde o dia 12 de maio mantém 26 telas expostas no Museu de Arte Contemporânea (Marco). De maneira irreverente, o artista traça o paralelo sobre arte e publicidade; capitalismo e consumismo e religiosidade e consumo, sendo este último o segmento de maior crítica por parte dos católicos.

O Grupo Defesa Católica de Campo Grande entende que a exposição, intitulada Habemus Cocam, mostra profanação às imagens de Jesus Cristo, da Virgem Maria, do Papa João Paulo II e outros símbolos da Igreja Católica, e organiza abaixo-assinado como protesto.

Segundo o curador do museu Rafael Maldonado, a seleção dos trabalhos dos artistas é muito séria e feita com acompanhamento de críticos de arte. “O trabalho do Evandro tem uma proposta pertinente, pois discute questões atuais. É importante lembrar que o trabalho é uma metáfora tratando dois grandes poderes: o do mundo religioso e o do capitalista”, explica.

Ele ressalta que o artista acaba sendo um mediador de percepções. “Não há, absolutamente nada de agressivo ou profano no trabalho do Evandro, este entendimento está simplesmente equivocado”, diz Maldonado.


MANIFESTO

Desde o dia 18 de maio, Evandro Prado recebe e-mails de repúdio das obras. “Até ago-ra já, recebi pelo menos 20. Eu acredito que todos têm direito de se expressar, mas o que me deixa triste é que muita gente sequer conhece o trabalho e reclama de ouvir dizer”, diz.

Além dos e-mails de repúdio à exposição, o artista também enfrenta resistências de grupos cató1icos, como o Grupo Defesa Católica de Campo Grande que organiza um abaixo-assinado em protesto ao trabalho do artista. Até agora, dos quase 424 mil católicos da Capital, 3 mil assinaram o documento.

Prado explica que no segmento que aborda a religiosidade x consumo teve como base o texto do Frei Betto “Religião e Consumo”. “Este segmento trata exatamente disso. Do culto da sociedade à mercadoria, ao produto. Hoje, é possível comprar um produto religioso no mesmo local em que se compra um refrigerante”, diz.

Todas as telas do artista estão expostas no Marco, de terça a sexta-feira, das 12 à,s 18 horas, e sábados, domingos e feriados das 14 às 18 horas.