Imagens de símbolos católicos retratados por Evandro Prado causam revolta

Câmara Municipal de Campo Grande, 16 de maio de 2006

Carlos Kuntzel, Assessoria de imprensa do vereador Paulo Siufi

A comunidade católica de Campo Grande está revoltada com a exposição “Habemus Cocam”, instalada desde o dia 11 de maio no espaço cultural do Museu de Arte Contemporânea (MARCO), com previsão para permanência de mais 30 dias. As obras de arte são interpretadas como uma profanação às imagens sagradas de Nosso Senhor Jesus Cristo, Nossa Senhora Aparecida, Papa João Paulo II e de outros signos representativos da Santa Igreja Católica.

O vereador Paulo Siufi (PRTB), representante da comunidade católica na Câmara Municipal de Campo Grande, preparou uma Moção de Repúdio à exposição, que será apresentada para votação amanhã (17) durante a Sessão Ordinária, a partir das 9 horas da manhã, solicitando o cancelamento da exposição dos quadros assinados pelo artista plástico Evandro Prado, cujas imagens fazem menção aos símbolos sagrados da comunidade Católica.

Representantes da igreja Católica e o Grupo de Defesa Católica organizado por jovens católicos estarão presentes à sessão para manifestarem sua indignação.

No entendimento do vereador Paulo Siufi, o direito à liberdade de expressão é assegurado pela Constituição Federal, base de um Estado Democrático de Direito, e sempre deve ser respeitada. “Porém o direito a liberdade é igualmente assegurado pela Carta Magna, devendo, portanto, a aplicação desses preceitos constitucionais ser balizada a fim de harmonizá-los, tendo sempre em mente que deve haver fronteira entre o fim do direito de um e o início do direito do outro. Neste caso está havendo desrespeito com todos os Católicos”, diz o vereador, acrescentando que o espaço cultural Marco tem finalidades sociais distintas, sendo fomentador da educação e da cultura da sociedade campo-grandense, portanto deve haver neutralidade no propósito de construir uma consciência regular que preserva os bons costumes.

Na opinião de católicos, como José Carlos dos Santos, 22 anos, estudante de Direito, o mundo passa por uma crise de intolerância. Fatos como este podem ser entendidos como falta de respeito ao próximo e isso não deve ser incentivado. “Esse tipo de atitude (expor quadros que profanam símbolos católicos) mesmo que não seja com essa intenção, não deve ser incentivada. Precisamos promover convivências harmoniosas”, destaca José Carlos.

Já para Valdecir Messias Machado, católico praticante da comunidade Senhor do Bonfim, as imagens são deploráveis. “Não se deve fazer, com uma coisa séria, uma propaganda do que ela não é. Em religião não há certo ou errado, mas deve haver respeito com o que se acredita. Brincar com coisa assim é muito sério. Graças a Deus vivemos num país de paz”, desabafa Valdecir.


O autor

Procurado para falar sobre a polêmica que as obras estão gerando, Evandro Prado, autor das peças que estão expostas no Marco, disse que já recebeu centenas de e-mails de repúdio ao seu trabalho. De criação religiosa, o artista disse que não é católico, mas também não está brincando com os símbolos católicos. Afirmou que a leitura correta das obras se faz a partir de um raciocínio crítico ao consumismo. “O uso da figuras da igreja é para mostrar que os valores estão sendo trocados, ao invés de valorizar os ensinamentos de Deus, as pessoas cultuam o consumismo. As empresas têm mais poder que a Igreja”, afirmou Evandro.

De acordo com Evandro é preciso ter um pouco de conhecimento sobre arte. O trabalho é conceitual e visual, não pode ser encarado somente como uma obra plástica, é preciso saber sobre o conceito. “Gosto da icnografia religiosa e já fiz uma série de trabalhos usando esse conceito”. A exposição tem três segmentos, idolatria ao consumismo, capitalismo e comunismo e arte e publicidade.

Para os católicos a leitura não é diferente, o trabalho tem um forte apelo visual e sobre ele, a partir dos valores de cada indivíduo, se constrói o conceito que se desejar. É difícil alguém parar diante de um quadro, ler a sua interpretação em um manual e depois formar sua opinião. O que se vê nestas telas, para um católico é chocante, já para um espírita talvez não incomode e para o autor é uma forma de dizer alguma coisa.

Na opinião do estudante Felipe Nery da Silva, existem outras formas de passar a mesma mensagem, sem perder a iconografia que o autor tanto valoriza. “É natural que o trabalho esteja ofendendo a opinião católica porque realmente os quadros estão desrespeitando as imagens que tem significado forte para essa religião”, conclui Felipe Nery.