Sagrado Profano: Arcebispo não conseguiu censurar Mostra de Arte

Jornal Boca do Povo, 25 de junho de 2006

A igreja foi através dos tempos, um mecenas das artes. Mesmo assim, depois de não mais conseguir impor sua moralidade ocasionada pela separação do estado, continuou cultuando seus acervos, que de tão valiosos sequer possuem preços, por isso, guindados à condição de tesouros da humanidade.

Conta-se, que por ocasião da pintura da Capela Sistina, Michelângelo era freqüentemente aporrinhado por um cardeal que achava sua pintura feia, imprópria para figurar na Capela, iniciando uma perseguição mesquinha ao artista. Quase ao final da pintura da Arca que o diabo levava os condenados para o inferno, o dito perseguidor reconheceu-se entre as almas penadas.

Aflito, foi falar ao Papa, implorando para que Michelângelo o tirasse da arca. O sumo Pontífice simplesmente ignorou o pedido dizendo ao cardeal “fosse se entende com o artista”, que em represália não o poupou, imortalizando-o como passageiro.

Esta semana, a arte de Evandro Prado foi duramente criticada pelo arcebispo Dom Vitório Pavanello, especialmente depois que o juiz Fernando Paes de Campos, da Comarca de Campo Grande, extinguiu a ação protocada pelo arcebispo que exigia o seqüestro, prisão dos bens, destruição dos quadros e proibição de “obras similares da mesma objetividade”.

Dom Vitório havia descoberto a censura, indo em direção oposta à manifestação livre do pensamento garantida pela Constituição do Brasil.

A Mostra “Habemus Cocam” inclui várias obras com símbolos sagrados, misturando-os à Coca-Cola. O artista não poderia esperar maior benção lhe descesse tão rapidamente sobre a Mostra. Ganhou espaços nas rádios, tevês, jornais e revistas. Aliás o “Boca do Povo” já havia comentado o assunto em edições anteriores, mas não esperávamos que a repercussão chegasse a ponto de que fosse solicitada sua proibição.

Na verdade, o pecado está sobre que vê. Os maiores críticos de arte do Estado inocentaram o autor, concluído que ele criticar o consumismo, pegando um dos símbolos mais conhecidos do consumo moderno, a Coca-Cola, e aliando-o ao pecado da luxúria, gastança e consumo, utilizando para causar impacto, símbolos sagrados.

O arcebispo não conseguiu impedir a Mostra, mas deu a ela a publicidade que necessitava para revesti-la da importância que não possuía. A Mostra pode ser visitada no Marco, até o dia 30 deste mês, ou pela Internet no site www.evandroprado.com.br.