Criticado pela Igreja, artista de MS prepara nova mostra

Campo Grande News, 11 de maio de 2007

Paulo Fernandes

Um ano após a inauguração da exposição Habemus Cocam, sobre religião e consumo, o artista plástico Evandro Prado, prepara uma mostra sobre a visita do papa Bento XVI que promete causar muita polêmica.

Através de colagens, o artista sul-mato-grossense irá vincular a imagem do papa aos dogmas da Igreja como a proibição ao uso da camisinha e ao aborto, a exigência da castidade e o tratamento dado aos homossexuais. A mostra, que ainda não tem nome, deverá ir para o Marco (Museu de Arte Contemporânea), em Campo Grande, provavelmente em agosto. “Eu vou reproduzir, mas de maneira crítica, os posicionamentos do próprio papa. Será um humor negro. São coisas que todo mundo sabe, que todo mundo vê”, revela o artista.

A preparação da exposição ainda está no início, mas Evandro Prado já levanta hoje algumas questões que devem fazer parte da mostra. “Um gay pode ser católico?”, pergunta. “Vamos falar sobre o posicionamento retrógrado da Igreja. Como ela vai conseguir se estabelecer nessa Era. As pessoas são católicas, mas ninguém segue o que a Igreja determina. A Igreja está fora da sociedade”.

Habemus Cocam - Em maio de 2006, a exposição Religião do Consumo (também conhecida como Habemus Cocam), do artista plástico Evandro Prado, causou revolta entre os católicos de Mato Grosso do Sul.

O arcebispo de Campo Grande, Dom Vitório Pavanello, chegou a entrar na Justiça contra a exposição alegando que ela estaria “causando impacto moral e emocional negativo na comunidade local, especialmente na religiosa católica", já que, no entendimento dele, as obras caracterizariam desprezo às imagens sacras. Vereadores também engrossaram o coro contra a exposição.

Em 21 pinturas e 13 objetos (montagens de materiais), Evandro Padro deu teor sagrado a um refrigerante. O trabalho foi feito com base em um texto do Frei Beto sobre a troca de valores, o culto a algumas marcas, a mercadoria e ao dinheiro.

A ousadia foi tanta que no trabalho do sul-mato-grossense que o sagrado coração de Jesus chegou a ser substituído por uma latinha da coca-cola. Além disso, o papa João Paulo II aparecia morto segurando o refrigerante. “No fim valeu a pena. Não me arrependo de nada. Eu faria novamente”, diz o artista.

Próxima atração - A próxima exibição de Evandro Prado não promete causar nenhuma polêmica. Em julho, a exposição Fé na Tábua (de objetos) será exibida no Sesc/Horto, em Campo Grande.