Obras de arte polêmicas criticam "indústria de pecados"

Unifolha, abril de 2008

JOANA MORONI

Evandro Prado expõe série "Estandartes" no Marco

Segue até o dia 15 de abril no Museu da Arte Contemporânea (Marco), a exposição “Estandartes”, do artista plástico Evandro Prado. Conhecido pela série de obras que fundem a iconografia cristã aos símbolos da cultura do consumo, o artista mais uma vez não teme polemizar sobre o assunto. Desta vez, Evandro Prado expõe 18 obras, confeccionadas com diversos tipos de tecidos sobrepostos, desconstruindo ícones e sugerindo ao público, uma perspectiva crítica sobre o catolicismo, enquanto "indústria de pecados e assassinatos", conforme define o próprio artista.

Assim explica Evandro, perguntado sobre uma obra referencial do acervo: “Posso citar a figura de um papa segurando a foice da morte. Um papa como aquele que mata, assassina – representando o poder da Igreja Católica que quase executou Galileu Galilei, promoveu a Santa Inquisição, incentivou a escravidão, que fez vistas grossas ao holocausto, que apoiou a ditadura militar no Brasil”. “A Igreja patrocinadora da morte”, ressalta.

O artista também percebe a gradual substituição da veneração de objetos-símbolos da sociedade de consumo, pela adoração de “grandes celebridades que despertam paixões”, vistas por ele como produtos, enquanto ícones. Sobre a arte ser um instrumento de transformação social, Evandro pondera : “Diria que não. Mas a arte leva as pessoas à reflexão, à questionarem”. Ele também acredita que criar é, de certa maneira, exorcizar. E conta, bem-humorado, que transpõe para suas obras seus demônios mais “inquietos e provocativos, os piores!”. E, se tivesse o poder de conceder o status de divindade às pessoas, escolheria Oscar Niemeyer para ser deus. E o diabo, “todas as pessoas que fazem a guerra”.