Crítica - Alegorias Proféticas

Camuflados

UFMS - Redação e Expressão Oral II, 20 de setembro 2008

Tainara Rebelo

Conhecido no cenário sul-mato-grossense pela ousadia de suas obras, o artista plástico Evandro Prado mais uma vez mostra talento e coragem em sua mais nova exposição, Alegorias Proféticas.

Composta por 17 trabalhos em azul, amarelo, vermelho e bege, a cada nova peça uma parte de uma mensagem que anuncia o Apocalipse. A mensagem em branco, no vidro em frente ao trabalho, é dura e forte, contrastando com a delicadeza do trabalho feito em cima do tecido delicado e colorido. O corte grosseiro e sem costura, é literalmente pano de fundo para imagens santas, terços e costuras. Costuras sutis em formatos delicados feitos em renda e outras em cores diferentes de tecido em pequenos formatos sinuosos remetendo ao Barroco.

É fácil perceber que o Barroco talvez seja a mais marcante inspiração do artista. O movimento Seiscentista foi marcado pelas lutas religiosas decorrentes da Contra – reforma. Nesse período, as expressões artísticas e a religiosidade foram expressas de forma dramática e intensa, envolvendo emocionalmente as pessoas da época.

Dos 17 atos em exposição, o que mais prende a atenção , sem dúvidas é o 7º. A figura do Papa – outro traço sempre presente nos trabalhos do artista, vide Habeamus Cocam e Estandartes, para citar exemplos- e a frase ‘…e adoram a Besta…’ foi considerada ofensiva por aqueles que visitam a exposição. A grade sacada porém, é acompanhar todos os atos relacionando figura e texto, para perceber que a mensagem é tão clara quanto as imagens expostas. Não se trata de equívoco nem blasfêmia, mas de um aviso do artista sobre a mais camuflada forma de alienação social, a religião como algo a ser seguido com medo e sem questionamentos. Uma exposição belíssima carregada de significado e assuntos a serem pensados pela sociedade atual.