Evandro Prado: Tem que Manter Isso Aí, Viu?

ARTE! Brasileiros, maio de 2019

O Centro Cultural São Paulo tem o prazer de apresentar, a partir de 25 de maio de 2019, “Tem que manter isso aí, viu?”, exposição do artista Evandro Prado premiada no Programa de Exposições 2019. Composta por dois trabalhos que levantam questões sobre gênero, mídia e poder, o artista se debruça sobre os desfechos políticos que resultaram no impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff. O texto da exposição é assinado pelo curador Alexandre Bispo.


Com uma produção preocupada com as relações dos campos da história e do poder, Evandro Prado reproduziu todas as capas revistas de circulação nacional que foram estampadas com a figura de Dilma Rousseff, entre os anos 2010 e 2016. As 97 pinturas à óleo formam o grande políptico que é o destaque desta exposição.


Em “2010-1016 /O Processo” (2017), que ocupa mais de 10 metros de parede, capas de revistas como “Veja”, “Isto É”, “Exame”, “Época”, “Carta Capital” e “Caras” são recriadas quase sem edições, retirando apenas os textos secundários, mas preservando fielmente as logomarcas, as manchetes principais e as fotografias. Na transposição das imagens das capas para a tela Evandro executa uma pintura rápida e precipitada, como se a rapidez dos acontecimentos e os equívocos políticos devessem perpassar o movimento das pinceladas. A reunião de todas essas capas de revistas revelam como a imprensa nacional, que ajuda a formar a mentalidade e domina a opinião das classes médias do país, desempenhou papel importante como criadora e geradora de pressão política por parte da opinião pública sobre a então Presidente da República.


O humor discreto de entonação crítica de Evandro fica também evidente na instalação “Governo Federal 2” (2018). O trabalho faz um comentário sobre o escândalo das gravações entre o ex-presidente Michel Temer e o empresário Joesley Batista, um dos donos do Frigorífíco JBS. A fala de Temer “Tem que manter isso aí, viu” foi dita como endosso ao pagamento de propina ao ex-deputado Eduardo Cunha para manter seu silêncio diante da Polícia Federal.

A frase, que intitula a exposição, é reproduzida sobre a superfície de um outdoor de papelão, escancarada diante do olhar do público, devolvida como espetáculo da bizarrice política que vem assolando nosso país.


A exposição se completa com um livro de 128 páginas no qual um historiador, um jornalista, um antropólogo, uma filosofa, um crítico de arte, e uma deputada federal levantam questões confrontando o trabalho do artista com o sistema político, a sociedade, o direito, a injustiça, o machismo, o golpe e a opressão da mídia. Eles são Paulo Rezzutti, Eduardo Romero, Alexandre Bispo, Marcia Tiburi, Divino Sobral e Jandira Feghali, que colaboraram gratuitamente com o livro. A publicação está sendo financiada via crowdfunding pelo site: www.vakinha.com.br (até 20 de junho) e será lançada na exposição, no dia 24 de agosto.