A Grande Mídia no Golpe (2019)

por Jandira Feghali

A imprensa, historicamente, tem um papel central na defesa da democracia. Contudo, o golpe de 2016 contra Dilma Rousseff, travestido de impeachment, fora defendido abertamente por muitos veículos de Comunicação – vale lembrar, uma imprensa que é altamente concentrada, sem pluralidade de opiniões, o que não reflete a realidade dos outros países do mundo.

Parte da imprensa jogou papel pesado para destituir uma mulher honesta, acusada por crimes que não havia provas, usando de artifícios naturais à Grande Mídia. As pinturas aqui expostas, feitas pelo talentoso artista Evandro Prado, claramente provam isso e chamam a sociedade à reflexão.

Um dos anos mais difíceis da luta política contra o impeachment de Dilma foi em 2015, ano em boa parte da imprensa nacional começava a construir um simbolismo machista, misógino e preconceituoso contra Dilma. As capas a chamavam de fraca, sem habilidade política ou que estava desorientada. A isso dá-se um nome: Gaslighting (forma de abuso psicológico no qual informações são distorcidas, seletivamente omitidas para favorecer o abusador ou simplesmente inventadas com a intenção de fazer a vítima duvidar de sua própria memória, percepção e sanidade). No caso de Dilma, caras e bocas estampavam as capas de revista, muitas das vezes com alterações digitais. Manipulação pura e simplesmente para atacar a primeira presidenta de nossa História.

Na mesma época, em reuniões políticas com Dilma, naturais aos que ocupam o Parlamento, não víamos aquela figura distorcida que as revistas vendiam e a sociedade começava a comprar. Não era uma Dilma “louca”, “descontrolada”, “fraca”. Pelo contrário! A chefe-mandatária do Brasil sempre estava altiva, serena e confiante no projeto em que o Brasil seguia. Um projeto popular, soberano, focado nos trabalhadores, na geração de empregos, no aquecimento da economia e no olhar justo às demais camadas da sociedade. Contudo, esse projeto não era o projeto em que o mercado estava interessado. O mercado do lucro queria o neoliberalismo pleno e, por isso, começou a usar de suas táticas para desestabilizar o Governo.

Como se diz, “quem paga a banda escolhe a música”.

E na imprensa, quem a financia detém poder.

As asquerosas capas de semanais contra Dilma refletiam também o machismo e misoginia em nossa sociedade. Não vale apenas ressaltar o aspecto da imprensa no processo de golpe contra a ex-presidenta. Ainda há incrustrado no seio de nossa sociedade sentimentos preconceituosos contra as mulheres. Na política, então, nem se fala! Brasília é o paraíso dos engravatados. As mulheres ainda são minoria no Poder e, as que ocupam cargos de destaque, passam por muitos processos de intolerância. Uma luta diária.

Como se vê, é um caldo cultural azedo que precisa ser modificado. A Grande Mídia no Brasil precisa de regulamentação econômica (que nada tem a ver com censura ou controle de informação) favorecendo a pluralidade de opinião, de informação e de mais canais de comunicação. E mais: investimento na mídia alternativa, regulamentação da regionalização da Comunicação (que a Constituição exige desde 1988).

A democracia agradece.


Jandira Feghali

é médica, baterista profissional, deputada federal (PCdoB/RJ)