Caminhar no tempo (2010)

por Oscar D’Ambrosio

A série do artista Evandro Prado que toma o Barroco como ponto de partida aponta para uma ampla pesquisa sobre o significado da técnica para a arte contemporânea e seu papel de abrir portas com novas chaves.

Ao lidar com o desenho sobre algodão cru feito com pregos oxidados pelo uso de água e sal, Evandro Prado questiona a passagem do tempo e a interferência de materiais que oferecem diversas alternativas visuais. Está em jogo ainda o peculiar processo de construção de imagens em que o controle e o descontrole dialogam continuamente, estabelecendo o desafio entre o que se deseja fazer e o que se atinge.

Quanto mais ocorre a libertação do tema e mais se concretiza o efeito das manchas no tecido, o artista consegue exercer um dos principais papeis da arte, o de levar o criador ao limite de suas possibilidades, explorando oportunidades em termos de procedimentos e de recursos. O trabalhar com o enferrujado mostra sendas entre o ferro e seus derivados, assim como a arte se movimenta entre presente, passado e futuro.

Nesse aspecto, análogo a um caminhar pelas veredas de períodos históricos, a referência do Barroco indica as tensões entre vertical e horizontal entre a capacidade infinita do artista de conceber e a junção que necessita fazer entre o desenvolver de uma poética e o aprimoramento técnico. Essas duas facetas conversam constantemente na execução de uma contínua e profícua elaboração.

Evandro Prado parte de um momento determinado da história da arte para erguer imagens que recuperam fragmentos e os colocam numa nova dimensão. A forma de fazer isso, somada ao resultado plástico final, não tiram o contemplar do observador da construção visual e, nesse ponto, a obra fascina como um olhar contemporâneo sobre a prática cotidiana do fazer e do refletir sobre a concepção do próprio trabalho.


Oscar D’Ambrosio

Doutorando em Educação, Arte e História da Cultura na Universidade Mackenzie, é mestre em Artes Visuais pelo Instituto de Artes da Unesp. Integra a Associação Internacional de Críticos de Arte (AICA-Seção Brasil).

Julho/2010